CRUZEIRO DE LORIGA
Diz-me por onde anda a minha gente
Os homens e mulheres da minha terra
Que ao longo dos anos contigo de cruzaram
Vindos das escarpas da serra
Carregando o peso do destino…
Vergados sob os molhos de torgas
Giestas, rachas e carquejas
Amarradas na travinca com vigor
Quantos por ti terão passado
Como fantasmas vivos
Em sobressalto
Olhar gelado e vazio,
Manchando de negro a neve do caminho
Com pegadas tortuosas e vincadas de pó
Do carvão ainda morno
Aos tombos
Aos tombos
Nas velhas sacas de sarpilheira.
Quantos junto de ti suspiraram
E se apoiaram em ti
Noite cerrada, enxada às costas
Afogados no inconformismo do cansaço
De quem cavou e lavrou a terra de sol a sol
À míngua duma côdea de pão.
Quantas gerações te tocaram…
Quantos segredos as tuas pedras escutaram
Nas antigas conversas domingueiras
Quiçá, enfeitadas de sorrisos de volfrâmio
Regadas com licores e aguardente de zimbro
Misturados com os cânticos festivos
Em dias de procissão.
Ou, quem sabe!
Ainda te consomes de insónias
Recordando o arrepiar de mãos aflitas
Quando famintas se erguiam ao alto
Buscando conforto na tua cruz.
Restas-te no tempo
Sereno e aprumado
Na simplicidade das tuas formas
Com o teu coração de granito
Vivo e generoso
Simples e majestoso
Que te mantém acordado nos séculos
Como um guardião de lança afiada
Apontando os céus
Nas recordações generosas
Das gerações que passam
E não entendem que ao olhar-te
Contemplam a eternidade.
Photo e poesia: José Manuel Alves
Sem comentários:
Enviar um comentário