A GARGANTA
A garganta que me espanta
Que me seduz e encanta
Na alternância das águas
vagarosas
Serpenteando serenas
Como um rio de cristal
Ou revoltas como enfeitiçadas
Na pressa com que galgam afoitas
os penhascos
Desenhando caminhos de incerteza
Em direção ao fundo
Extravasando os obstáculos que as
prendem
Caindo inertes em cascatas e bicarões
Sobre as pedras mudas e disformes
Que as dividem e as
encaminham na ribeira.
Gélidas , e cristalinas
Descem pelas encostas
Entoando cânticos de notas irrequietas
Rodopiando nas “piorcas”
Como moinhos de água mole
Desgastando a dureza das pedras
Abrindo inquietantes covas
redondas
Profundas e arrepiantes
Nas fragas que brilham com laivos de diamantes.
Quando o sol do meio-dia
Incide sobre a mica e o quartzo
do granito.
Perdem-se os nossos olhos no espanto
Do encanto que nos atrai e
conquista
Sempre que olhamos a garganta.
Seja de cima ou de baixo
Silenciosa e bela
Convidando-nos a segui-la.
Photo e poesia - José Manuel Alves