AS ONDAS, UMA A UMA
As ondas, uma a uma
Como novelos de espuma
Desfazem-se como algodão
Na minha mão.
Um canto molhado e doce
Quem as criou?
Quem as trouxe?
Quem lhes incutiu aquele
arrastar lamentoso
Numa dança de agonia
enrouquecida
Como poetas famintos
Surfando labirintos de
inconfidências
Em versículos descoloridos.
Lentamente, uma a Uma
Com a paciência de quem é
dono da eternidade
Com a maciez da sumaúma
Num gesto de poder e de
vaidade
Vestem as rochas de espuma
E afogam-nas sem piedade
Ah! Este mar! Este deserto
Estes cânticos de sereias a
rezar
Este feitiço de o olhar de
longe ou perto
Augúrios de pescadores a
estrebuchar
Perdidos na imensidão deste
deserto
Mãos erguidas, vidas a
definhar.
São assim as ondas
Uma a uma
Vestidas de rendas e de
espuma
Que se desfaz como o doce algodão
Entre os dedos da minha mão.
Quem as criou?
Quem as trouxe?
Autor: José Manuel Alves