sábado, 28 de abril de 2012

LORIGA à noite



Loriga à Noite

Tranquilidade e paz
Alma serena espreitando das colinas
Como se do império da sombras
Rainha fosse.
È a hora do espanto
Do adivinhar das recordações
Do sentir do vento nas folhagens
Como bruxas assustadas
Rezando ladainhas
Ladeira  abaixo
Cegas de luzes assombradas.

Já não se ouvem os chocalhos
Nem sequer as algazarras
Das cigarras.

A noite chegou descalça
Galgando as colinas!
Vagarosa e negra
Acomoda-se nas ruas e quelhas
Escondendo-se à socapa
Das luzes dos candeeiros
Como laranjas doiradas
Cobertas de Lençóis de linho.

Na torre da Igreja soa a badalada das Três!
Escuta-se à distância o ementar das almas
Vazando o silêncio com melodias e preces
Num remoinho de perguntas e respostas
Aos que, no Purgatório
Pedem perdão de joelhos.

Restamo-nos na serenidade
Embalouçados na mudez das palavras
Esmiuçando devagarinho
As recordações
Escritas na beleza da noite.


Autor:
José Manuel Alves

terça-feira, 24 de abril de 2012

Pastando



                                                                                   
OVELHAS EM LORIGA

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A FANDEGA


FANDEGA - Ruinas - Loriga

Ruínas de Uma Fábrica de Lanifícios.

Hà muito se calaram os teares
Onde as “lançadeiras” endoidadas
Entrelaçavam  como loucas,
A trama de infindáveis fios de lã
Que a incansável “fiação” enrolava nas canelas
Num estonteante vaivém ritmado.

Há muito desaparecerem os concêntricos tambores
Rodando alinhados ao longo do comprido veio
Que no alto das paredes impulsionavam
As enormes correias de couro
Sedutoras do nosso olhar
Num carrossel ensurdecedor
Que abalava os tímpanos.

Há muito os cardos deixaram de “esgarrar”
As mãos   calejadas e ágeis dos cardadores
Manipulando  experientes
Os fardos de lãs
Chegados das tosquias.

Há muito se esvaiu  o odor carregado das tintas
Que se escapava das caldeiras
E do  “Hidro” da  tinturaria


Há muito desapareceu o olhar
Das fiandeiras, tecelões,cardadores,
Cerzideiras,  Atadeiras
Espinçadeiras, Urdideiras..
Trabalhadores  vestidos de ganga  
Desafiando o azul do Céu na Primavera.
Contrastando com as cores vivas ou apagadas
Dos “cortes” de fazenda
Estendidos a secar como bandeiras 
Esticadas à força 
Na “ Rambola”.

Hoje, apenas te sobraram as paredes nuas
Erguidas num sepulcral silêncio
Só cortado pelo cantar indiferente
Das águas da ribeira
Que antes faziam  girar a tua  alma
Em forma de roda gigante


Autor:
José Manuel Alves

terça-feira, 17 de abril de 2012

Montanhas


    Serra em flor

 Respiro em ti o ar da madrugada
 Entremeado de urgueira e rosmaninho
 Em carquejas de fogo  no caminho
 Serpenteando na encosta escarpada

Digo de ti  nas curvas das estradas
Que o céu e  a terra  em pranto humedeceram
perdidas se ficaram  enquanto deram
Em florir rosas  deslumbradas

Mais alto, no  mais alto inatingível
Uma coroa de estrelas na rainha
Ufana,  de beleza  imperecível

Altiva sobre a neve cintilante
prostrado te declaro serra minha 
És a minha amada , a minha amante


Foto e Poesia: José MAnuel Alves

sexta-feira, 13 de abril de 2012

BELEZA SERRANA


Beleza Serrana

Misto de simplicidade e realeza
Sem  pedras preciosas este tesouro
Vale o peso do mundo inteiro em ouro
Tão sublime! Tão enfeitado de beleza.

A fino traço desenha a mãe natura
Quadros de cores vivas e agrestes
Entre Choupos Pinheiros e ciprestes
Pintados na sapiência da arte pura.

No negrume a luz da tarde se declina.
Ao alto o céu o azul se desvanece
Colam-se os aromas nas narinas

Na acalmia da brisa que esmorece
Vestem-se de princesas e meninas
As flores, e a Primavera  acontece.

Photo e poesia: José Manuel Alves


quarta-feira, 11 de abril de 2012

Moinho de Água


Moinho de àgua /Loriga - Serra da Estrela

MOINHO
Moinho pequenino
Onde as saudades ainda se afogam
No eterno cantar das águas
Sobre as fragas da ribeira.

Moinho de pedra dura

De tantas horas de luta
Sobre a mó girando… girando
Em círculos perfeitos e cegos
Escrevendo em cada grão
A história incomensurável
De uma vida finada.

 
Quando a ribeira se cala
Ainda se ouvem na tua sombra
As vozes das crianças felizes
Que junto a ti semeavam
Sorrisos de Brincadeiras inocentes.

Moinho pequenino

És agora tão grande!
Tão grande no meu olhar
Que não paro de cismar
Sempre que me encontro
Entre as folhas vivas
Do teu livro de memórias.

Photo e Poesia:

José Manuel Alves

terça-feira, 10 de abril de 2012

A MINHA RUA E EU


A MINHA RUA E EU

A minha história está nas pedras da minha rua
Escrita em cada paralelepípedo da calçada
Onde os meus pés descalços davam topetadas
Ou se entretiam  , atrevidos
A travar o ímpeto da água
Que corria apressada nos regos
Extravasando as margens.

A minha rua è longa e estreita
Na medida exata dos molhos de lenha
Cortada à força do podão
Ateada pela Padeira
No forno da esquina

A minha rua é a aceitação da infância
 Do alvorecer dos destinos por  editar
Dos miúdos que em dia de São João
Saltavam alegres sobre os tocos em chamas
Embriagados no aroma do rosmaninho queimado.

Hoje a minha rua
É silenciosa e nostálgica
Apunhalada de sombras à noitinha
Como um tição mortiço
Em vésperas de se extinguir.

A minha rua é velhinha
Tanta, tantas vezes a palmilhei
Talvez seja de todos, mas é a minha
Onde nasci e morei.

Photo e poesia. José Manuel Alves



quarta-feira, 4 de abril de 2012

CRUZEIRO DE LORIGA


CRUZEIRO DE  LORIGA
  
Diz-me por onde anda a minha gente
Os homens e mulheres da minha terra
Que ao longo dos anos contigo de cruzaram
Vindos das escarpas da serra
Carregando o peso do destino…
Vergados sob os molhos de torgas
Giestas, rachas e carquejas
Amarradas na travinca com vigor 

Quantos por ti terão passado
Como fantasmas vivos
Em sobressalto
Olhar gelado e vazio,
Manchando de negro a neve do caminho
Com pegadas tortuosas e vincadas de pó
Do  carvão ainda morno
Aos tombos
Nas velhas sacas de sarpilheira.

Quantos junto de ti suspiraram
E se apoiaram em ti
Noite cerrada, enxada às costas
Afogados no inconformismo do cansaço
De quem cavou e lavrou a terra de sol a sol
À míngua duma côdea de pão.

Quantas gerações te tocaram…
Quantos segredos as tuas pedras escutaram
Nas antigas conversas domingueiras
Quiçá, enfeitadas de sorrisos de volfrâmio
Regadas com licores e aguardente de zimbro
Misturados com os cânticos festivos
Em dias de procissão. 
Ou, quem sabe!
Ainda te consomes de insónias
Recordando o arrepiar de mãos aflitas
Quando famintas se erguiam ao alto
Buscando conforto na tua cruz.

Restas-te no tempo
Sereno e aprumado
Na simplicidade das tuas formas
Com o teu coração de granito
Vivo e generoso
Simples e  majestoso
Que te mantém acordado nos séculos
Como um guardião de lança afiada
Apontando os céus
Nas recordações generosas
Das gerações que passam
E não entendem que ao olhar-te
Contemplam a eternidade.
  
Photo e poesia: José Manuel Alves