quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O Inverno no além da minha Janela




NEVOEIRO

Quadro de cinzas pachorrentas

Teimosamente ensombrando
E vestindo de entediantes neblinas
Caminhos de horizontes apagados
Entre nuvens de vapor crescente
Pendurado nas folhas molhadas
Das árvores aprumadas e esguias
Como mãos de prece em oração.

Inconstantes, num vaivém pausado

Passos de alguém entorpecido
Exalando uma brisa cansada
De respirar a manhã fria
Como fumo de cigarros
Que se entremeia e confunde
com etéreos mantos de noiva
Suavemente pintados no Inverno.

Olhar vadio sobre as cinzas

Subindo e descendo
Na inconstância das formas
Disformes e inseguras
Que limitam a visão
E nos arrastam no sonho
De Castelos erguidos de fantasia
Que se movem e se desfazem
Na luz do sol que se levanta.

Photo e poesia: José Manuel Alves


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

SOMBRAS

SOMBRAS

Sombras são pedaços de nós
Fantasmas que nos seguem
Como demónios apaixonados
Rastejando ousados pelas ruas
Subindo e descendo como loucos
As paredes e os muros dos caminhos


Prendem-se silenciosas
À cadência dos nossos passos
E sem cansaços, elas são
O nosso eu bizarro
Em desgarro
tingido de escuridão.

Espreitam-nos na madrugada
Ou na ensolarada tarde.
Sem alarde, avivam-se no luar
E no passar, enredam-se na luz
Que as ressuscita e seduz
Como maldições ao nosso olhar.

Sombras são pedaços de nós
Fantasmas vivos
Sem alma e sem razão
Obcecados e perdidos
Perseguem-nos, famintos
Arrastando-se no chão.

Photo e poesia:
José Manuel Alves

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A GUERRA








Só quem esteve por lá, sabe o que é a emoção de procurar o nome dos amigos
entre os milhares de nomes que enchem as paredes. A minha Homenagem para
todos eles.

A GUERRA


Olhai-os tisnados pelo sol
Arma a tiracolo, Olhos abertos
Prontos a matar e a morrer.

Ali tudo lhes é indiferente
E sem medo avançam ao encontro da incógnita.
Seus pensamentos vagueiam longe
Acariciando perenes recordações
O filho, a noiva, a mãe...
Que importa? Estão na guerra!
De cada árvore que avistam
Esperam uma bala com o seu nome
Mas não param.
Olhai-os!
Vede como se amam…
Reparai que junto dos que caiem
 Fica um pouco dos que avançam.
Só a ilusão de um fim
Lhes dá a hercúlea coragem e força
Para vencerem a fome, a sede, o sono.


Um dia, talvez sorriam felizes
No entorpecimento cansado da angústia
Ou, quem sabe?
Alguém verá o seu nome
Escrito e alinhado entre milhares
Num memorial de lápides de mármore gelado
Num epitáfio de reconhecimento inglório
Àqueles que pela sua Pátria
Tudo deram e tudo mereceram!
Tudo deram e tudo perderam.
E aos quais nem  sequer lhes sobrou
A vida.

Photo e poesia: José Manuel Alves


sábado, 7 de janeiro de 2012

OUTONO

O OLHAR E AS PALAVRAS




O romantismo das palavras escrito na beleza das imagens ao som dum rock sinfónico.

ROSA



PASSEI  Á TUA PORTA

Passei à tua porta
E não me viste
Nem sequer sentiste
Meu coração galopando
Quando estavas olhando
De pé, na janela
Sorrindo! Tão Bela!
Olhavas indiferente
Sabendo-me ausente
Mas eu estava ali
Ansioso de ti
Desejando abraçar-te!
Desejando beijar-te!
Mas tu não me viste
Nem nada sentiste
Quando na hora morta
Deixei uma flor na tua porta.

Photo e poesia: José Manuel Alves