domingo, 26 de agosto de 2012

CONVENTO DO CARMO




RUINAS DA IGREJA     

Quem te disse que a vida é eterna flor
Quem sobre ti escreveu eternidade
Quem te revestiu de árvores de saudade
Alguém que nunca soube o que é o amor

Crescem-te nas entranhas vivas flores
Que Na Primavera espreitam à janela
Como querendo prostrar-se na lapela
Dos que passam indiferentes às tuas dores

Quem te abandonou? Que importa?
O Inverno já espreitou a tua porta
Não é a vida um constante derrubar?

Outrora eras Igreja, eras menina  
Hoje o teu destino é a ruína
Ruindo… ruindo até tombar.

Autor:
José Manuel Alves






sábado, 25 de agosto de 2012




O VELHO MOINHO

Girando, Girando
Perdido no tempo
No contínuo milagre
De transformar o milho e o centeio
No pão de cada dia.

Girando ,girando
Como cantando
Ao ritmo da mó
Que a água da ribeira entontece
Sem  dó
Em círculos infinitos.

Girando, girando
És um senhor
Sem tempo, sem idade
Na eternidade das lembranças
De tantas crianças
Que sabem de cor
A melodia de cadência ritmada
Do arrastar da pedra sobre pedra.

Girando, girando
Resistindo ao caruncho
E ao progresso…
Deixa-nos mudos
No regresso
Às histórias e recordações de infância
Escritas na memória
Em livros de letras douradas.

Autor: José Manuel Alves

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

LISBOA



RUAS

Por estas ruas me vou
Carregando horas de fantasia
Pensamentos perdidos , algures
Entre os desenhos lógicos da calçada.

Eu cantaria mesmo que o sol não existisse
Mesmo que tivesse de inventar
versos nas sombras lentas dos teus olhos.
Eu sorriria mesmo que as palavras
Se afundassem em sílabas de agonia lenta
Rimas geradas
Na eloquência do teu silêncio sentido.
Eu amaria mesmo que não houvesse flores
em cada esquina inventaria o teu sorriso
em cada pedra escreveria uma letra do teu nome
e com elas inventaria novas ruas como esta
por onde me vou
carregando pensamentos de fantasia.

Autor: José Manuel Alves



quarta-feira, 15 de agosto de 2012

LISBOA


LONJURA

Tão perto de tão longe estás que não resisto
Transformar as avenidas de Lisboa
Em gaivotas de luz, voando à toa
E procurar-te onde decerto tu existes.

Estendo a mão, convicto, toco em ti
Como se o teu corpo do meu se desprendesse
E num longínquo abraço estremecesse
Tão distante mas tão próxima te senti

Se para te ver o pensamento atravessasse
A luz que os teus olhos irradiam
Não haveria obstáculo que o travasse

Teus olhos outros olhos não veriam
Tão-somente aqueles de quem te amasse
E tão perto, de desejo arderiam.

Autor: José Manuel Alves




sábado, 11 de agosto de 2012

PAPOILA






PAPOILAS
Rubro incandescente e altivo
Sobre o trigal.
Papoilas são gritos
Gargalhadas de sangue
Labaredas de lume
Nas cores mansas do pastoreio.

Odores de venenos libertinos
Estames de ópio viciante
Desafios à inocência serena
No vermelho de esperança
Das hastes e corolas aveludadas.

Papoilas
São obras de arte
Belezas alucinantes em sobressalto
Primaveras angustiadas
Aguardando as foices de dentes ávidos
Nas mãos de moçoilas de olhar ausente.

Esquecidas...
Restam-se no chão
Esvaindo-se lentamente
Como gargalhadas de sangue
Entre as ervas daninhas do restolho

 Autor. José Manuel Alves






segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O NOSSO OLHAR NO MAR




O NOSSO OLHAR, NO MAR

Em frente o mar, inocente imaginado
Um telúrico de beleza incandescente
Que apazigua  o olhar arguto, apaixonado
No vaivém dos caminhos do poente

Mar invicto que saboreio nesta  imagem
Que de tão bela a pele queimada se arrepia
Deambula o pensamento na miragem
No alongamento do teu olhar de maresia

Onda inventada numa praia de aventura
Arrastando o coração e o pensamento
Indiferentes ao mundo que murmura

Enciumado e insensível, como o vento
Que nos segreda num momento de loucura
A vida  começa aqui, neste  momento.

Autor: José Manuel Alves