segunda-feira, 31 de outubro de 2011

LORIGA -cascata

 
A CASCATA

Apressada, na dureza do granito
Descendo da serra até ao chão
Colorindo de branco o verde musgo
Que enfeita os contornos arredondados
Das pedras sedentas da ribeira.

Águas passadas não voltam!

Qual pintor, sem falsa modéstia
Rendido incondicionalmente
À beleza das águas transbordantes
Manipula um pincel de talento
E desenha nos nossos olhos surpreendidos
um quadro surreal.

Resto-me em doce vertigem

No borbulhar crescendo das águas cantantes
Cristalinas, gélidas mas vibrantes
Como uma sinfonia de sons
Nos prazeres do Outono agreste.


Photo e poesia: José Manuel Alves

terça-feira, 25 de outubro de 2011

RIO TEJO - AVIEIROS





MEU TEJO

Meu Tejo, meu amigo, meu regalo
Livro aberto de Histórias e viagens
Teu destino é morrer no oceano
O meu, é viver nas tuas margens

Tejo de maravilhas e de encantos
Como pontes serpenteando sobre as águas
Espreitar-te, é seduzir-me de espanto
Navegar-te, é esquecer tudo, até as mágoas

Espraiado nos pés desta Lisboa
Dormes o merecido sono dos marinheiros
Que de ti partiram e foram os primeiros
A descobrir outros mundos, gente boa

Quando as marés regressam das viagens
Trazem escritas saudades dos que se foram
Que de longe não esqueceram onde moram
Os que ficaram habitando as tuas margens.

Photo e poesia:
José Manuel Alves

sábado, 22 de outubro de 2011

TERREIRO DO PAÇO E A LIBERDADE



TERREIRO DA PAÇO E A LIBERDADE

Passo e repasso

Girando como um compasso!
No desenho de um abraço
A ansiedade é um estilhaço
Nas linhas do meu caminho

Afogo-me de cansaço

Rodopiando no espaço
Desci a Liberdade e que faço?
O nó da bandeira está lasso
E escapa-se devagarinho

Tempo de liberdade, escasso

Na harmonia do Terraço
Ergue-se o punho e o braço
Aqui no Terreiro do Paço
De Lisboa em desalinho

Photo e poesia : José Manuel Alves

O MUNDO ÀS CAMBALHOTAS



O MUNDO ÀS CAMBALHOTAS

Mundo!

Moribundo e louco!
Onde os equilibrados vivem
Aos trambolhões…
Governados por políticos
Sem escrúpulos e aldrabões.

Um mundo moribundo

Onde apenas alguns têm privilégios
Autênticos sacrilégios
Da dignidade das gentes de bem.

E tudo vale nesta guerra de poderes.


Não importa se caminham

Sobre cabeças degoladas
Ou gargantas de contraditório
estropiadas.

Pouco importa se o amigo jaz na calçada

Se dele podem fazer um degrau
Ou uma escada
Para alcançar os insaciáveis…
Inconfessáveis
E tenebrosos fins.


Por isso ergo o meu punho de protesto

E mesmo que seja tudo o que me resta
Grito bem alto: Basta!
Basta!

é urgente caminhar

é preciso
Construir gritos de homens sãos.

  Photo e poesia:

José Manuel Alves

domingo, 16 de outubro de 2011

O CISNE E A VIDA



 A VIDA

Lago azul parado e pasmacento
No ditar do destino vivenciado
Rebuscar de virtudes do passado
No entardecer do dia pachorrento

Sobre ele se desfazem as alvoradas
Manhãs de sol por nós constantemente
Escritas num deixa andar, permanente
De audaciosas esperanças apagadas

Fixo o olhar no momento da verdade
Talvez num frémito mudo da vontade
Em apurado recolhimento eu cisme

Bom seria viver a vida incerta
Num paradisíaco lago, ilha deserta
Nadando, exuberante como um cisne

Photo e poesia: José Manuel Alves

O OLHAR

CAMINHANDO SOBRE AS ÁGUAS

      
CAMINHANDO SOBRE AS ÁGUAS

Sonho
Sonhei que caminhava sobre as águas
Num navegar perfeito sobre as ondas.
Ai! As vagas adormecidas
Caladas e cambaleantes
Como cordeiros enfeitiçados na boca do lobo.

Havia o murmúrio dos remos cortando a maciez da maré.
E a esperança de alcançar as margens do meu sonho sonhado.
Onde me levarão estas trevas impuras
Porque brilham ao longe teus olhos ardentes
Porque não descansa esta febre de acordar
Este delírio inconsciente que me mantém erguido.

Sonhei que passeava sobre as águas
Num navegar perfeito sobre as ondas
Por entre reflexos de lenços brancos
 Acenando despedidas

Porque não brilham ao longe os faróis que me norteiam
Porque se calam as vozes que me guiam

Ai ! Estas vagas adormecidas
Esta preguiça de adivinhar
Que braços aflitos se restaram na praia
Abandonados na agonia
Do meu naufragar.


Photo e poesia: José  Manuel Alves

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

NEVE NA SERRA DA ESTRELA

A neve

Fria e gélida

Alva e imaculada

Cobrindo o chão de beleza.

Renascendo da fúria invernal

Nuvens expandidas
Erguem-se no horizonte

sopradas pelo vento norte


Numa vontade incontida

De ressuscitar o sol açaimado

Num Inverno latente.



Neve é beleza

Candura e realeza

Despontar de rostos espantados

No alongar do gelo quebradiço

Nas águas afogadas

Navegando como pequenos barcos

Definhando até ao nada.



Olho e reflicto

Lentes embaciadas

Mas convicto

Que basta apenas ser sensível

E de certeza....

Plantamos  aqui o coração

Até florir, na Natureza.

photo e poesia: José Manuel Alves












quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O CAIS DAS COLUNAS


                                               

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A FORMIGA NO CUBO

                    
             

Pensamento de Formiga no cubo


Que  injustiça ser formiga

Trabalhando toda  a vida

Num labirinto de tristeza

Enquanto la fora,  a cigarra

Com acordes de guitarra

Vive à grande e à francesa



A culpa é deste mundo hediondo

Que se ri da miséria alheia.

Mas eu juro!

Se tivesse  um cassetete

Perderia a estribeira....

malhava! Malhava! Malhava!



Quando ele se lamentasse

Antes  que me interrogasse

Diria ao Incrédulo e mudo:

Ri  agora meu  malvado

Vais ficar tão achatado

vais  parecer-te com um cubo




Photo e Poesia: José Manuel Alves

                           

A CORRIDA DA VIDA



A VIDA
 
A vida é uma corrida
Desigual e dolorida
Alguns, meros espectadores
Os outros são corredores

Uns quantos bem na frente

Com um sorriso indiferente
Mesmo sem saber andar
Conseguem sempre o lugar

Outros vergam-se no doer

Da vontade de vencer
Sem dar tréguas ao descanso
Condenados ao falhanço!

A vida é uma corrida

Injusta e desigual
Para uns um mar de rosas
Para outros bem dolorosa
Dia e noite, noite e dia.
Em vista
A conquista
Do inalienável direito
Que todos deveríamos ter
De viver num mundo
Simplesmente
Perfeito.

Photo e poesia: José Manuel Alves

sábado, 8 de outubro de 2011

ALCOCHETE

RUINAS DA IGREJA













RUINAS DA IGREJA

Quem te disse que a vida é eterna flor

Quem sobre ti escreveu eternidade
Quem te revestiu de árvores de saudade
Alguém que nunca soube o que é o amor

Crescem-te nas entranhas vivas flores

Que Na Primavera espreitam à janela
Como querendo prostrar-se na lapela
Dos que passam indiferentes à tua dor

Quem te abandonou? Que importa?

O Inverno já espreitou a tua porta
Não é a vida um constante derrubar?

Outrora eras Igreja, eras menina

Hoje o teu destino é a ruína
Ruindo… ruindo até tombar.

Foto/Poesia: José Manuel Alves

O PONTÃO

O PONTÃO

O pontão onde me sento e descanso
No enlace do entardecer com a noite
Onde medito e questiono às horas
Num sereno desafio do tempo.

Olho o baloiçar das águas
No crepúsculo de inúteis preces
Augúrios de naufrágios sentidos
De vontades à flor da revolta
Passeando-se sobre os abstractos
Pensamentos dum amanhã por acontecer.

Divago em espirais de infinitos desejos
Estendo os meus braços em direcção ao vento
E deixo que a chuva apague os sinais das lágrimas
Num arco-íris febril de deslumbramento
Que me arrasta e me afasta
Das violetas defuntas
Que os teus olhos plantaram
No jardim dos meus sonhos.

Photo e poesia: José Manuel Alves

CASINHAS 2

CASINHAS



CASINHA

Pequenina
Desenhada na beira da estrada
Com traços doces e suaves.
Aninhada entre paredes arredondadas
Num alvo desafio ao sol
Invejoso das suas cores brilhantes
E generosas
Como um convite a quem passa
E repassa e se perde de amores
Entre as flores que a enfeitam
Como um hino à sóbria beleza
De quem sabe conquistar
Com a grandeza da simplicidade
Dos humildes.

Photo e Poesia:José Manuel Alves

NASCEU O SOL


NASCEU O SOL

Lentamente

Como um imenso girassol
Emergindo duma fornalha de luz.
Imponente e vaidoso
Pairando sobre as tranquilas aguas
Num fascinante espectáculo de beleza..

Nasceu mais um dia!

Na azáfama da praça,
Fala-se de amor
Como quem vende retalhos de alma.
Leiloam-se sentimentos
Com a frieza de quem só passa nesta vida
Para vegetar.

Que sacrilégio não estarem aqui

Rendidos a esta magia de rei
Brilhando como fogo ateado em desvario
Num manto de luz quente.
Como um vulcão intenso
Que me ofusca e me cega.

Vou levar-te um pouco deste olhar

E despejá-lo de mansinho nos teus olhos
Fazer deles um girassol que me segue
Numa planície de sorrisos
semeados entre grinaldas de rosmaninho.

Que importa que se leiloe amor na praça?

a vida sem sol não tem graça.
Eu tenho as mãos cheias de vida
E levo o sol na algibeira.

Photo e Poesia

José Manuel Alves

RIBEIRA DE LORIGA

A BORBOLETA


BORBOLETA

Encontrei uma borboleta
preta
Na valeta.
Fiz uma careta|
Peguei numa pipeta
E com uma camiseta
Ainda com etiqueta
Enfiei-a na gaveta
Entre a minha papeleta.

Rodei a maçaneta!

Mas a gaveta
Mal fechada e com uma greta
Permitiu à borboleta
Preta
Esgueirar-se que nem cometa.

No ar deu uma pirueta

Balançou-se na caneta
E ágil que nem atleta
Pôs-se na alheta.

Espantado! Pensei!

Que grande picareta!
 
Photo e Poesia: José Manuel Alves

O OCEANO


O OCEANO

O que haverá no fundo do oceano
Que me cativa e encanta
Como um feitiço
Numa alucinante vontade de viajar.
Que haverá nas aguas abismais
Frias como as mágoas dos meus sonhos
Que me abraçam e embriagam
Numa vontade louca de navegar.
Que haverá nos murmúrios das tempestades
Que me seduzem e incutem
O desejo de os seguir.
Que haverá nos mistérios do desconhecido
Que me fascinam e arrastam
Na vontade de os sentir.
Que haverá nesta alma de marinheiro
Com coração de rebeldia
Que numa profunda heresia
Desafia o desconhecido.
Que coração bate no peito deste povo
Que embarca em cascas de noz
E regressa conquistador elegido.
Que alma, que ânsia
Que furor
Que desejo
Que destemor
Te acorrenta e conduz
Onde os novos mundos
Se desfazem
Em rios de luz?

Perguntei aos ventos

Responderam numa só voz
É apenas a garra dos antepassados
Portugueses, teus avós.

photo e poesia: Jose Manuel Alves

terça-feira, 4 de outubro de 2011

AS MÃOS



AS MÃOS

A minha mão
A tua mão
A tua mão na minha mão
As minhas mãos e as tuas
 As duas!

Mãos que acariciam
Escrevem e falam.
Mãos que se torcem em desespero
Quando fazem a guerra
 Mãos de paz
Quando te apraz
E seguras o arado
Rasgando a terra

Mãos erguidas em prece
Mãos de perdão e de açoite
Mãos que se perdem em carícias
Quando acontece
A noite.
São elas adeus
Raiva, acenos
Capazes dos gestos mais cruéis e obscenos
Capazes dos afagos mais doces e serenos
Mãos de adeus, de despedidas
Mãos de raiva e de guitarra
De sufocos e farra
De lágrimas contidas.
São assim as minhas e as tuas
Calejadas e nuas
Um mundo de sentidos
Divididos
Entre as duas.

Photo e poesia
 José Manuel Alves

domingo, 2 de outubro de 2011

O MOINHO


O MOINHO

Meu moinho renovado
Já não móis os cereais.
Paredes, e pouco mais
È o teu sonho transformado

Onde estão as tuas velas
Enfunadas à tardinha
Brancas, da cor da farinha
Sempre alvas, sempre belas

Onde está o teu moleiro
Vergado ao peso da vida
Arrastando-se na lida
Sol a sol o dia inteiro

Meu moinho renovado
Espreitando ao longe o Tejo
Fecho os olhos e que vejo?
A tua glória! o teu passado


foto/Poesia: Josalvespt

ESCARAVELHO



ESCARAVELHO

Escuro

Arredondado
Pés vermelhos
Irrequieto
Pequeno
Equilibrado
Escaravelho
Sou um insecto.

Poesia/Foto: Josalvespt

METRO DO PORTO

VOANDO SOBRE O TEJO

TUDO PASSA TUDO ACABA


TUDO PASSA! TUDO ACABA

Junta-te a mim e chora as tuas lágrimas
Descansa comigo no aconchego da eternidade
À sombra da nudez forte da certeza
Que nada somos e aqui tudo se acaba.


Tão pouco durou o dia inteiro!
Perdi-me na ambição dos pensamentos!
Julguei que poderia vencer
O inquebrantável finar das horas
E adocicar o perene veneno que nos esvazia
E nos arrasta de mansinho ao pó.

Aqui,esvai-se a arrogância
A injustiça, o ódio, a vingança
A mesquinhez, a fome a abastança.

A coluna da vida ruiu
Os pilares da altivez tombaram,
Quem o diria!
Que a as minhas lágrimas no chão
Abririam a cova onde te perdes
Agora que as flores murcham
Depois que as vozes se esfumaram
E se perderam em calada resignação..

Junta-te a mim e chora as minhas lágrimas.
Sobra-te o silêncio da eternidade
Aqui onde de nada vale a vaidade
E apenas as minhas asas brancas
Cobrem de silêncio e paz
O teu sorriso apagado.

Autor foto e poesia: Josalvespt