terça-feira, 27 de setembro de 2011

DESCENDO NA MADEIRA



CAMINHOS DE NUVENS

Soltas e abstratas
Um dilema inquieto!

Um desassossego de formas
Maculando o azul do céus
Delimitando caminhos.

Elas são...
Novelos em rodopio
Pouco importa se não cabem na minha mão!

Quero senti-las acariciando o meu rosto
Escalá-las uma a uma
Fazer delas as avenidas por onde te alcanço
E descanso
Sobre o lancil imaginado da tua porta.

Por favor não me roubem as nuvens!

Imaginei-me a saltar dum avião
Sonhei que as sentia beijando meu rosto
Sedosas e macias com lábios de sumaúma
Descendo, descendo
suavemente
Ate poisar no chão.
Por favor ! Não me roubem as nuvens!
Repito:
Por favor! Não me roubem as nuvens

Autor Foto e poesia
José Manuel Alves

domingo, 25 de setembro de 2011

BORBOLETA AMARELA

Borboleta

MOLICEIRO


MOLICEIRO

Moliceiro moliceiro

Vogando com realeza
Fazes dos canais de Aveiro
A Veneza Portuguesa

Nas águas serenas voavas

Com arte, magia e feitiço
O dia inteiro arrastavas
Os ancinhos do moliço

Hoje velhinho sem idade

Sempre ufano, moliceiro
Enfeitas de brio e vaidade
A bela Ria de Aveiro


autor Photo e poesia:  José Manuel Alves

CARREIRA 28



CARREIRA 28


Na velha calçada
Como uma flor de Primavera
O amarelo da Carris
Passou no Martim Moniz
Chegou ao Terreiro do Passo.
Um passageiro apressado
Diz ao amigo do lado

Pé ligeiro e afoito
Se queres entrar numa boa
Vem daí curtir Lisboa
Já chegou o 28.

Autor foto e poesia: José Manuel Alves

OLHAR VERTICAL






OLHAR VERTICAL

Teimosamente bonitos, misteriosos
Perdem-se em mim teus olhos penitentes
Raiados de paixão, ansiosos e sedentos
Embalados na tua boca ternurenta
Salpicada de amor e que me tenta
A cobri-la de beijos doces e quentes.

Triste o entardecer em que os não vejo
Encadeados nos meus, horas a fio
Plenos de luz! Lanternas de navio!
Esculpidas em sorrisos feiticeiros
Suaves, delicados e trigueiros
Adivinhando tempestades de desejo.

Todos os teus gestos moram no meu peito
Num perfeito sincronismo e simetria
Reparo de magia que não entendo
Ou desvendo em saudades dolorosas
Sequioso de beber em ti a madrugada
Adornada e viva, no teu corpo de cetim.

Photo e poesia: José Manuel Alves

sábado, 24 de setembro de 2011

MIÚDOS E HOMENS DE LORIGA



MIÚDOS E HOMENS DE LORIGA

A fundura dos poços de Loriga

Mede-se pelos homens que encobrem
Enquanto os miúdos, “dinqueiros”
Secam estirados ao sol
Sobre as fragas de granito polido

As ribeiras não têm segredos!

Eles conhecem-na como ninguém
E são muitos os heróis
Que tocaram o fundo do "caldeirão" e do "inferno".

A fundura dos poços de Loriga

Mede-se com homens de coragem
Homens que a seu tempo
Desafiaram a rudeza da serra
E foram pastores, mineiros
Agricultores, operários
Homens de saber
Ou gente apenas.

Em Loriga os homens nascem marinheiros

E navegam bem cedo os barcos de "carcódoa"
Ladeando-os rego abaixo
Em incessantes correrias
Por ruas e quelhas
Horas a fio
Contrariando o cansaço.

A grandeza dos que partiram

Mede-se na saudade
E no irresistível desejo de voltar a mirá-la lá do alto
Olhos desmesuradamente espantados
Como se fosse a primeira vez
E senti-la incrivelmente bela
Serenamente ajoelhada na ribeira
Enquanto os miúdos "dinqueiros"
Secam estirados ao sol
Sobre as fragas roliças
De granito polido.

Photo e poesia: josalvespt

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

LIBELINHA

LIBELINHA

Voa! Voa Libelinha

És perfeita simetria
Voa ao sabor do vento
Tens o mundo à tua espera
Libelinha és alegria
Voa no firmamento
Veste-te de Primavera
Parceira dos meus segredos
A tua casa é a rua
Voa sem rumo e sem medos
Vai daqui até à lua
Faz do sol a tua porta.
Vai veloz como andorinha
Se o teu voar tiver volta
Libelinha voa! Voa!
Faz um trono de rainha
Numa rua de Lisboa.

Autor Photo/Poesia: Josalvespt

terça-feira, 13 de setembro de 2011

O MAR E O MEU OLHAR

VIDA
No limiar do teu rosto de menina
Crescem teus olhos prenhes de paisagem
Os teus seios como aves de rapina
Arfam plenos de beleza e de coragem

Nos teus lábios nascem beijos que embriagam
Quando o meu corpo no teu corpo se deleita
Os teus braços são rios que me afagam
E se espraiam na madrugada que te espreita

Como um barco sem leme, naufragado
Na tempestade do teu sangue me desfiz
E despejei no teu orgasmo inesperado
A semente do filho que te fiz.

Misteriosa magia, doce cântico
Embalam teu corpo desfalecido
Que de tanto amar se deu, de tão romântico
Restou nos meus braços, nu,  adormecido.

Autor poesia/Photo: José Manuel Alves

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

BOLA DE CRISTAL


 BOLA DE CRISTAL 
 
Pela minha janela
Entram sombras obtusas
Fantásticas, disformes, confusas
Luar de Agosto no chão

Figuras desalinhadas
Corpos híbridos crescendo
Sereias emergindo das mágoas
Baloiçando-se no chão
No espaço tangente das águas
Como bola de cristal ardendo
Entre os dedos da minha mão.


Sonhos desassossegados
Ornados de nuances doiradas
Escapulindo-se assustados
Na noite por acontecer
Na adrenalina estonteante
De prosaísmos cansados
De amanhãs por viver.

Fecho os olhos!
Será sonho ou panaceia
Verdade ou invenção?
 Hoje é minha lua cheia
Como bola de cristal
Entre os dedos da minha mão.


Photo e poesia: José Manuel Alves




Recantos de Loriga



SONETO - RECANTOS DE LORIGA


A paz inquieta destas ruas é sentida
Ausência de quem nas esquinas te marcou
Com saudades duma infância breve e perdida
Num tempo que partiu e não voltou

Escuta-se no silêncio a chiadeira
Dos “rendízios” de gancheta, lá no fundo
Pés descalços , com sorrisos na algibeira
Um quase nada, que valia o mundo

Passo e repasso meditando quedo
na multidão que já fomos, nas histórias
Dessas crianças adultas muito cedo

Choro as ruas vazias e os recantos.
Ali …onde só os teus filhos lêem as memórias,
Os outros, apenas vêem os teus encantos.


Photo/Poesia: José Manuel Alves

A PONTE



A PONTE

Sou a passagem entre o aqui e o além
Trago do passado a força do saber
O eco dos passos nos caminhos cansados.

Sou memória de fantasmas vivos
De rostos esvaziados de vida
De conversas engolidas
que nem o tempo, nem os homens calaram.

Ergo-me numa simplicidade majestosa
De quem tanto viu e sentiu
Venho do fundo das mágoas
Do limite das vontades.
Lego a esperança aos olhares ansiosos
aos que por mim passam
e se perdem no além

Corre-me no granito frio
a vontade de consumir gerações
e de me restar reflectida
no espelho das águas paradas
aqui deste lado
de braços abertos até ao infinito..

photo/Poesia by José Manuel Alves
 

sábado, 10 de setembro de 2011

PENSAMENTOS E IRONIAS DE UM BURRO


PENSAMENTOS E IRONIAS DE UM BURRO

Não me levanto cedo!

Não corro apressado
Para o trabalho
Pelo atalho das avenidas
Pejadas de gente
Cansada e Sonolenta
Para ganhar uns tostões
Com que pagar os milhões
De obrigações
De uma vida de faz de conta.

E ainda me chamam burro?


Não sou eu que vivo empilhado nas cidades

Cansado das modernanças
Dos políticos, das finanças
Do ar irrespirável
Ou odiando
O condutor embriagado
Que pela manhã se lembrou
De atropelar a vida de um cão
Da incógnita e atónita dama empertigada
Mal equilibrada nos seus saltos altos de senhora fina
Que desatina enquanto exibe
A sua nova expressão de morta
Na cara torta
Que o cirurgião lhe arranjou
Com desconto.

“O Burro sou Eu?”

“O Burro sou eu?”

Perante o meu enigmático encolher de ombros

Chegou mais perto...
Abriu-se num sorriso
E disse com ar prazenteiro:
(Aqui pra nós)
Gozasse eu dos favores
Que têm certos senhores
Até seria engenheiro
Photo e poesia by: José Manuel Alves
 

DOR

DOR
Dói-me por demais esta lonjura
Esta ausência de ter ver, este mutismo
De tão longe, esperar-te é uma loucura
Pairando no silêncio deste abismo.

Dói-me o Outono desnudando as avenidas

Onde os teus olhos amantes, na cidade
Esculpiram em cada rua, em cada esquina
Um coração, numa moldura de saudade.

Dói-me o amor platónico, impossível

No teu corpo tantas vezes palmilhado
Dói-me o efémero ciúme em ti visível
O tédio de não poder estar ao teu lado.

Foto e posesia: José Manuel Alves

ESPINHOS NO TEU CORPO MULHER


ESPINHOS

Espinhos
Duros e pontiagudos
Dor e pavor
São como soldadinhos
Perfilados na couraça
Do teu corpo de amor.

espinhos
Afiados e letais
Filhos De malmequer
São como espadas
Defendendo a alma
Do teu corpo mulher

Espinhos
São beijos transformados
Punhais no teu peito
Quando a tua boca
Bebe o veneno
Dum sonho desfeito

Foto e poesia: José Manuel Alves

AS ONDAS UMA A UMA

AS ONDAS, UMA A UMA

As ondas, uma a uma
Como novelos de espuma
Desfazem-se como algodão
Na minha mão.

Um canto molhado e doce
Quem as criou?
Quem as trouxe?
Quem lhes incutiu aquele arrastar lamentoso
Numa dança de agonia enrouquecida
Como poetas famintos
Surfando labirintos de inconfidências
Em versículos descoloridos.

Lentamente, uma a Uma
Com a paciência de quem é dono da eternidade
Com a maciez da sumaúma
Num gesto de poder e de vaidade
Vestem as rochas de espuma
E afogam-nas sem piedade

Ah! Este mar! Este deserto
Entre cânticos de sereias a rezar
Este feitiço de o olhar de longe ou perto
Augúrios de pescadores a estrebuchar
Perdidos na imensidão sem rumo certo
Mãos erguidas, vidas a definhar.

São assim as ondas
Uma a uma
Vestidas de rendas e de espuma
Que se desfaz como o doce algodão
Entre os dedos da minha mão.
Quem as criou?
Quem as trouxe?


  Foto e poesia: José Manuel Alves